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O Gramofone de Edison,

Max Müller e o «agnímīḻe puróhitaṃ»

Ricardo Louro Martins
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Quando Thomas Alva Edison inventou, no séc. XIX, o Gramofone, o primeiro dispositivo que podia gravar a voz humana para a posteridade, ele escolheu o famoso orientalista Max Müller, para a primeira gravação. 

Thomas Edison encontrou-se com Müller em Inglaterra, perante uma plateia, e pediu-lhe que falasse em frente ao instrumento. Edison levou o instrumento e voltou nessa tarde com a gravação num disco. Ao tocá-lo no seu dispositivo, a plateia ficou impressionada ao ouvir a voz de Müller a sair do aparelho. Após aplausos e congratulações dirigidos a Edison, Max Müller subiu ao palco e disse:

«Vocês ouviram a minha voz de manhã. Depois ouviram a mesma voz vinda deste instrumentos à tarde. Mas será que compreenderam o que eu disse de manhã ou o que ouviram esta tarde?»

A plateia ficou silenciosa, pois não havia compreendido que língua era aquela.

Max Müller explicou de seguida que havia recitado parte do primeiro verso do primeiro hino do Ṛgveda em Sânscrito, e que disse:

«agnímīḻe puróhitaṃ»

Esta foi a primeira gravação pública do Gramofone. Precisamente as primeiras palavras do mais antigo hino Indo-Europeu.

Max Müller prosseguiu na sua explicação:

«Os Vedas são o mais antigo texto da raça humana, e o agnímīḻe puróhitaṃ é o primeiro verso do Ṛgveda. Na mais recuada era, quando as pessoas não sabiam ainda sequer como cobrir o corpo e viviam da caça e habitam em cavernas, os Indianos tinham atingido o cume da civilização, dando ao mundo filosofias universais na forma dos Vedas.»

Quando  o mesmo «agnímīḻe puróhitaṃ» foi novamente reproduzido, não houve aplausos, a audiência ficou estática, em silêncio, como acto de respeito por aquilo que estavam a ouvir.

O primeiro verso é o seguinte:

agnímīḻe puróhitaṃ yajñásya devám ṛtvíjam |

hótāraṃ ratnadhā́tamam ‖

«Invoco Agní (o fogo), o Purohita (sacerdote familiar) , o deus-sacerdote do sacrifício,

o Hotar (invocador), o dador de grandes riquezas.»

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